UMA PITADA DE EVANGELISMO
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UMA PITADA DE EVANGELISMO

UMA PITADA DE EVANGELISMO


E o padre leu no Evangelho : « Que a mulher seja submissa ao seu marido ». Isto é lido por padres cristãos de todo o mundo desde que a Bíblia existe. É que coisas destas ou muito próximas, estão lá escritas desde o tempo em que os relatos bíblicos se difundiram.


O caso, no nosso tempo, deu origem a escândalo e a contestação. Há mesmo quem sustente que, dada a leitura de tais enormidades, as missas não devam ser transmitidas, quer na rádio, quer na televisão.


Há que ponderar que todos os textos sagrados conhecidos remontam a sociedades patriarcais. Há que dizer que ,nestas, preponderava mesmo a "falocracia", vocábulo enfatizado com o mesmo ódio ou repulsa com que o Senhor Jerónimo de Sousa pronuncia a palavra " goverrrrno", acentuando enfaticamente os érres . Há que fazer notar que o próprio Jesus Cristo se referia à Senhora sua mãe utilizando a palavra "mulher" e vincando um claro estatuto de superioridade, em função do sexo.


Qualquer texto deverá ser sujeito a análises exegéticas, para que se lhes possa reconhecer o sentido autêntico. A Bíblia é para mim, apenas um texto histórico. Permite-me fazer o levantamento da mentalidade de épocas muito recuadas. Qualquer texto escrito é um índice do espírito do seu tempo.


Não é espanto nenhum que "in illo tempore" tenha existido uma estratificação social que conferia aos machos um papel mais decisivo do que o que na altura era reservado às fêmeas. Desconhecer estas migalhas de sociologia primária, é desconhecer o primário das coisas mais elementares. Foi este desconhecimento, ou este sectarismo, que permitiu a Saramago a barbaridade cultural e declarativa de considerar a Bíblia um livro pérfido, inçado de malfeitorias. O sectarismo é sempre uma forma de barbaridade. Com o seu dito, Saramago enterrou Strauss, Renan e toda uma galeria de notáveis e respeitados exegetas, antropólogos e sociólogos. Com o escândalo das feministas de agora, enterra-se a cultura, o bom-senso e até a subtileza de espírito, que costumava ser precisamente apanágio das mulheres. Mas das mulheres informadas e inteligentes, claro.


@ A.C.H.

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