O caminho da serpente
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O caminho da serpente

O caminho da serpente (Fernando Pessoa)


O caminho da Serpente está fora das ordens e das iniciações, está, até, fora das leis (rectilíneas) dos mundos e de Deus.


O carácter maldito, o aspecto repugnante, da Cobra, traz marcado a sua Oposição ao Universo — profundo e obscuro Mistério Magno.


Ela é o Espírito que Nega, mas nega mais, e mais profundamente, do que em geral se entende ou se pode entender.


Nega o bem no seu baixo nível, em que é só Serpente e tenta Eva; nega a verdade no seu segundo nível, em que é (…) nega o bem e o mal no seu terceiro nível, em que é Satã; nega a verdade e o erro no seu quarto nível, em que é Lúcifer; (ou Vénus); nega-se a si mesma e a tudo no seu quinto nível, e fuga, em que é SS, a Revelação Suprema. (…) e a si mesma se tenta e se mata.

Todos os caminhos no mundo e na lei são rectilíneos; o caminho da Serpente é a evasão dos caminhos, porque é, substancial e potencialmente, a Evasão Abstracta, o reconhecimento da verdade essencial, que pode exprimir-se, poeticamente, na frase de que Deus é o cadáver de si mesmo; a descoberta do Triângulo Místico em que os três vértices são o mesmo ponto, o segredo da Trindade e do Deus Vivo, que, em certo modo, é o Homem Morto em e através de Deus Morto.


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