top of page

A presença discreta da Maçonaria na formação do Brasil moderno

Entre o Império e a República, a Maçonaria ajudou a pensar o Brasil para além das conjunturas.


A história oficial do Brasil costuma fixar-se em datas, proclamações e monumentos.


Mas há sempre histórias subterrâneas, linhas de força invisíveis, que ajudam a compreender como um país se constrói.


A Maçonaria foi uma dessas presenças: discreta, mas capaz de moldar mentalidades, articular vontades e inspirar ideais de liberdade.


No início do século XIX, quando o Brasil ainda se debatia entre a condição de colónia e a aspiração de soberania, as Lojas Maçónicas tornaram-se espaços de sociabilidade intelectual e política.


Não eram apenas locais de rituais: eram lugares de encontro entre homens de letras, militares, jornalistas e comerciantes que viam na independência não apenas uma mudança administrativa, mas a possibilidade de reformar profundamente a sociedade.


A Maçonaria brasileira soube integrar-se na vida pública de modo singular.


Ao mesmo tempo que guardava a sua dimensão iniciática e simbólica, não se fechou sobre si própria: irradiou para jornais, clubes, associações e universidades.


Gonçalves Ledo escrevia, José Bonifácio discutia, D. Pedro frequentava.


O segredo maçónico não era silêncio absoluto, mas disciplina que permitia que certas ideias circulassem com maior liberdade, num ambiente ainda vigiado pela coroa portuguesa.


Não se trata de imaginar a Maçonaria como protagonista única da Independência ou da República.


O Brasil nasceu da confluência de muitas forças — militares, populares, religiosas. Mas os maçons estavam lá, com a sua linguagem de igualdade, com a sua prática de fraternidade, com a sua visão de um país que pudesse afirmar-se diante do mundo.


A fundação do Grande Oriente do Brasil em 1822 deu expressão institucional a essa presença, consolidando uma rede que rapidamente se expandiu por todo o território.


Do Império à República, passando pelos períodos de instabilidade política do século XX, a Maçonaria manteve-se como espaço de sociabilidade crítica, guardando valores que iam além das conjunturas: liberdade, justiça social, laicidade, educação.


Muitos intelectuais e políticos brasileiros encontraram nas Lojas não apenas companheiros, mas também uma gramática simbólica que os ajudava a pensar o país para além da luta imediata.


Hoje, num tempo em que a democracia volta a enfrentar desafios e em que a cidadania parece muitas vezes ameaçada pela indiferença, recordar esse papel discreto mas decisivo da Maçonaria pode ser mais do que um exercício histórico.


É uma forma de reconhecer que a construção do Brasil moderno não dependeu apenas de decretos ou proclamações: dependeu também de homens e ideias que ousaram imaginar uma nação livre, justa e fraterna.




Gravura histórica representando uma reunião de maçons no Brasil do século XIX, associada à formação do Brasil moderno
Gravura histórica de maçons no Brasil do século XIX

Comentários

Avaliado com 0 de 5 estrelas.
Ainda sem avaliações

Adicione uma avaliação
bottom of page