top of page

U.S.     ENGLAND     FRANCE     BRASIL     PORTUGAL     ESPAÑOL

A memória como pedra: o que permanece quando o tempo passa

Entre rituais, arquivos e monumentos, o sentido da memória na construção da identidade portuguesa.


A memória não é um lugar: é uma respiração lenta, feita de gestos e de ecos. Cada pedra de um templo, cada palavra preservada num ritual, carrega mais do que o peso dos séculos — carrega a continuidade do que fomos e do que ainda procuramos ser. É por isso que recordar não é apenas um ato de saudade; é um trabalho de reconstrução.


Em Portugal, o tempo deposita-se sobre nós como um pó antigo. O país vive entre o desejo de modernidade e o apego a uma herança que, por vezes, nem compreende totalmente. As ruínas romanas, os conventos, as bibliotecas e as memórias orais dos ofícios antigos — tudo fala de um tecido invisível que liga as gerações. O perigo é quando se confunde memória com museu, e o passado deixa de inspirar o presente.


No trabalho simbólico — aquele que a tradição maçónica tão bem compreende —, recordar é acender de novo a luz sobre o que parecia esquecido. A pedra bruta só ganha forma quando o aprendiz reconhece o que nela já existia: uma promessa escondida. Assim também é a memória — não se cria, revela-se.


Mas a sociedade atual, dominada pelo imediatismo digital, prefere o ruído à escuta. Há uma pressa em esquecer, em simplificar, em apagar as complexidades da história. Talvez por isso os monumentos sobrevivam, mas o seu sentido se dilua. Recordar torna-se então um ato de resistência.


Preservar um arquivo, restaurar um claustro, proteger uma língua — são gestos de continuidade ética. Quando a memória se perde, perde-se também a bússola moral de um povo. É nesse espaço de reencontro, entre a tradição e o futuro, que a cultura portuguesa tem de se reinventar: não negando o passado, mas fazendo dele uma fonte viva de renovação.


Talvez recordar seja o verdadeiro exercício espiritual do nosso tempo — uma maneira de devolver humanidade ao que o esquecimento quer dissolver.


Fotografias antigas de família e automóveis clássicos num álbum aberto, evocando a passagem do tempo e a herança das gerações.
Álbum de fotografias antigas — Memórias e História | My Fraternity

Comentários


bottom of page