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COM SWIFT

O herói de Swift, Gulliver, executou várias viagens, por terras e gentes estranhas e “pedagógicas”. A primeira foi a Lilipute, onde os habitantes eram muito pequenos (liliputianos) e o herói teve de tomar especiais cuidados para não os destruir pelo seu muito maior porte.


A segunda vigem, a Brobdingnag, configurou a hipótese inversa da primeira: ou seja, Gulliver era minúsculo perante os brobdingnaguianos, que o podiam destruir pelo seu gigantismo. Aqui, o herói – que fora magnânimo em Lilipute – teve de cultivar a virtude da humildade e da docilidade.


As terceiras viagens foram feitas à Lapúcia, à região dos balnibarbos, a Luggnagg, a Glubdubdrib e ao Japão ; nestas viagens o que está em causa é a gestão da estranheza, uma vez que a ilha da Lapúcia se desloca no ar e é soberana em relação ao território dos balnibarbos, que se encontra fixo, como uma espécie de realidade terrena.


Mas a obra atinge a suprema altura na descrição da última viagem, ao país dos Houyhnhnms. Aqui se encontra – e se descreve – a sociedade mais sábia, mais cauta, mais gentil, mais virtuosa, mais equilibrada: uma sociedade de cavalos falantes!!!! Os houyhnhnms gerem com dificuldade mas firmeza a comunidade dos subordinados Yahoos – que são aparentemente humanos. Mas estes humanos são pérfidos, porcos, sem o menor vestígio de generosidade, cúpidos, insaciáveis, cruéis, egoístas, implacáveis, indisciplinados. Ou seja, portadores do pior do que uma humanidade pode apresentar.

Como é evidente, a obra de Swift (como muitas das obras humorísticas) é uma parábola, que só por ligeireza pode ser apresentada como integrada na literatura juvenil. Swift é um filósofo arguto e intencional, que critica, sorrindo, e educa, advertindo. O seu ensino é o do relativismo que os humanos deverão cultivar perante a variedade das coisas. O contraste estabelecido entre liliputianos e brobdingnaguianos solicita-nos a um exercício de humildade: sermos grandes perante os pequenos, hoje, não garante que a realidade se mantenha intacta e que amanhã não tenhamos de nos defender de outras coexistências bem mais poderosas.


É uma filosofia pessimista, essa que se transmite no decurso das várias viagens de Gulliver? Claro que sim. Desde logo porque a sociedade mais perfeita é a dos cavalos Houyhnhnms, sendo a partir dela que se deduzem as insuficiências da organização social humana.


Bem vistas as coisas, o nosso quotidiano actual força-nos a reconhecer a boa razão de Swift. Por mim, gostaria de ser um houyhnhnm e jamais, jamais, um yahoo . Mas, para mal dos nossos pecados, estes últimos parecem reproduzir-se entre nós - e a um ritmo assustador ...


@Autor: C.H.

#SWIFT #Gulliver

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