Baruch de Espinosa: a exclusão da comunidade judaica e a influência na sua obra
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Baruch de Espinosa: a exclusão da comunidade judaica e a influência na sua obra

Baruch de Espinosa: vida e obra do filósofo excomungado da comunidade judaica de Amesterdão.


Baruch de Espinosa nasceu em Amesterdão, no dia 24 de novembro de 1632, filho de judeus portugueses que emigraram da região de Beja.


Viveu em Amesterdão até aos 23 anos, quando foi excluído da comunidade judaico-portuguesa por determinação do herém (excomunhão) lido publicamente pelo rabino da congregação Talmud Torah, em 26 de julho de 1656.


Conheça a vida e a obra revolucionária de Baruch de Espinosa, o filósofo que desafiou os fundamentos da religião, da moral e da autoridade política divinamente constituída.


A sentença pronunciada dizia que Baruch de Espinosa estava amaldiçoado e expulso da comunidade.


O herém proibia que qualquer pessoa mantivesse contato com ele, que lhe prestasse favores ou que lesse qualquer obra escrita ou concebida por ele.


Essa exclusão da comunidade teve grande impacto na vida e obra de Espinosa, que se tornaria um dos maiores filósofos do século XVII.


Por sentença dos anjos, pelo juízo dos santos, nós, irmãos, expulsamos, amaldiçoamos e imprecamos contra Baruch de Spinoza com o consentimento do santo Deus e o de toda essa comunidade [...] com o anátema lançado por Josué contra Jericó, com a maldição de Elias aos jovens, e com todas as maldições da lei.
Maldito seja de dia e maldito seja de noite, maldito seja ao levantar-se e maldito seja ao deitar-se, maldito seja ao sair e maldito seja ao regressar.
Que Deus nunca mais o perdoe ou o aceite; que a ira e a cólera de Deus se inflamem contra esse homem, e que seu nome seja riscado do céu e que Deus, para seu mal, exclua-o de todas as tribos de Israel.
Ordenamos que ninguém mantenha com ele comunicação oral por escrito, que ninguém lhe preste favor algum, que ninguém permaneça sob o mesmo teto que ele, que ninguém se aproxime dele a menos de quatro côvados de distância e que ninguém leia uma obra escrita ou concebida por ele.

Em consequência da sua excomunhão, Espinosa decidiu mudar-se para Rijnsburg, mais tarde para Voorburg e, por fim, estabeleceu-se na cidade de Haia, onde sofria de tuberculose e acabou por falecer em 21 de fevereiro de 1677.


Devido à sua exclusão da comunidade judaica e à perseguição pelas autoridades católicas, as obras do filósofo foram incluídas na proibição do Index.


Por isso, Espinosa era especialmente cuidadoso quanto à divulgação dos seus escritos, como fica evidente no último parágrafo do seu tratado Breve Tratado:


(...) resta-me apenas dizer algo aos amigos para quem escrevo:
(...) E como nào desconheceis a disposição do século em que vivemos, rogo-vos encarecidamente que seja is muito cuidadosos na comunicação dessas coisas a outros.
Não quero dizer que devais guardá-las inteiramente para vós, mas somente que, se começardes a comunicá-las a alguém, não tenhais outro propósito nem outros móveis que a salvação de vosso próximo, assegurando-vos junto a ele que vosso trabalho não seja em vão.

Os escritos de Espinosa eram partilhados entre amigos, que os copiavam e discutiam dentro de um círculo restrito.


As cartas e os textos eram cuidadosamente guardados, mas isso não era suficiente para conter o medo das autoridades, que proibiam a circulação das suas ideias devido ao caráter revolucionário da sua filosofia.


Como afirmou Jonathan I. Israel, durante o século XVII e XVIII, ninguém rivalizou com Espinosa ao desafiar os fundamentos da religião revelada, das ideias herdadas, da tradição, da moral e da autoridade política divinamente constituída.


Ao longo desses quase quatro séculos após o seu nascimento, muitas buscas pelos escritos de Espinosa foram empreendidas, e algumas cartas, textos não publicados, manuscritos e traduções foram descobertos.


Essas descobertas levaram a muitas discussões controversas entre estudiosos, incluindo o reconhecimento da autoria, a identificação do copista e a datação e cronologia dos textos.


@ Texto (parcial) de Álvaro Carva

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