No campo, havia um carneiro muito velhinho, que começou a andar abandonado.

Decidiu ir correr mundo. Andou, andou e ao passar por um monte viu um gato muito arrufadinho ao sol com frio e cumprimentaram-se:

– Que andas tu a fazer, compadre carneiro? – disse o gato.

– Ando a correr mundo – disse o carneiro.

– Anda comigo.

E lá foram os dois correr mundo. Andaram, andaram e ao passar por outro monte, viram um galo. Cumprimentaram-se, conversaram e resolveram ir os três correr mundo.

Numa noite, ao passar um ribeiro, apareceu-lhes um lobo. Diz o lobo: – Olá, agora como-os, ainda hoje não comi nada. – Ah! Mas nós somos velhinhos e estamos muito magrinhos – disseram os três. – Não! Tenho de os comer – disse o lobo. – Olha – disse o carneiro – antes de nos comeres vamos fazer um jogo. – Mas que jogo? – perguntou o lobo. – Olha, nós corremos para lá, tu corres para cá, e assim brincamos. Entretanto o lobo vinha correndo para o pé do carneiro e ele deu-lhe uma marrada na cabeça e matou-o. Cortaram-lhe a cabeça e meteram-na num alforge e continuaram o caminho. Durante a noite, já estava muito escuro e eles tiveram que parar. Viram ao longe uma luzinha de uma casa e foram lá ter.

O carneiro disse:

– Quem é que vai ver o que se passa naquela casa?

– Eu não vou – disse o gato.

– Eu também não vou – disse o galo.

– Deixem-se de coisas – disse o carneiro – vai lá tu ver, gato.

E assim foi. O gato foi lá. Era um baile de lobos e lobas. Tinham um tacho cheio de comida para jantar. O gato voltou com a notícia e disse para se irem embora, senão eram mortos.

Conversaram e o carneiro resolveu que iam os três lá a casa.

Os bichos entraram e os lobos começaram a chegar-se para o pé da porta.

– Boa noite, dão-nos licença de chegarmos para o pé do lume para tratarmos de alguma coisa para comer?

– Sim senhor – disseram os lobos.

O carneiro disse para o gato:

– Compadre gato, dessas sete cabeças de lobo que estão aí no alforge deixe ver a mais pequena. O gato ia tirando e mostrando, sempre a mesma cabeça, e o carneiro dizia: – Não é essa … é a outra.

Os lobos viram aquilo, começaram a ficar cheios de medo e foram saindo a pouco e pouco.

Lá em casa só ficaram o carneiro, o gato e o galo. E deliciaram-se com a comida dos lobos.

Depois foram deitar-se. O carneiro foi para detrás da porta, o gato ficou ao lume e o galo foi para cima de uma estaca.

– Se eles cá vierem, temos de os ensaiar – disse o carneiro.

Na rua ficaram os lobos e diziam que tinham que ir ver o que se passava. Um dos lobos afoitou-se e lá foi.

Confundiu os olhos do gato, que pareciam duas luzes, com o lume e ao chegar perto dele, levou uma sapatada e ficou com a cara arranhada. O carneiro, deu-lhe uma marrada que o atirou ao chão e o galo de cima da estaca grita:

– Cristo, se eu daqui me desço vais ver o que é o diabo.

Os lobos fugiram e nunca mais voltaram e os três amigos ainda hoje lá estão a viver. Contado por Franklim Joaquim Pires Dias

Adaptado por Rosa Barcoso e Cecília Martins, alunos dos 1.º e 2.º anos da E. B. 1 de N.ª S.ª de Machede.

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