O Património que Nos Guarda
- My Fraternity
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Jornadas Europeias do Património e a responsabilidade da memória.
Há quem olhe o património como se fosse um espólio de pedra e cal, um arquivo de coisas velhas destinadas ao turismo e à fotografia rápida. Enganam-se. O património não é apenas aquilo que herdámos: é aquilo que nos guarda. É a casa silenciosa onde a memória descansa e, ao mesmo tempo, nos vigia.
As Jornadas Europeias do Património, que agora decorrem em várias cidades e monumentos de Portugal, sob a promoção da Grande Loja Nacional Portuguesa, não são uma festa qualquer. São um apelo discreto à consciência: que país seríamos nós sem os sinais que nos lembram de onde viemos?
Entrar num espaço aberto para estas jornadas, ouvir a madeira ranger de um templo maçónico antigo, olhar o vitral de um templo iluminado pelo fim de tarde, é mais do que turismo. É um exercício de cidadania. Porque o património não existe sem o olhar que o reconhece. E sem esse olhar, também nós deixamos de existir como comunidade.
É por isso que estas jornadas têm um papel político no sentido mais nobre do termo: o de devolver o espaço público ao cidadão, convidando-o a entrar nos lugares que normalmente lhe estão vedados, a descobrir os alicerces invisíveis da sua própria identidade.
A Maçonaria, através da Grande Loja Nacional Portuguesa, tem aqui uma responsabilidade acrescida. Porque sabe, talvez melhor do que ninguém, que o património não é apenas material — é também simbólico, espiritual, ético.
A pedra bruta e a pedra polida convivem lado a lado nos edifícios e nas consciências. A proteção de um templo, de uma biblioteca ou de um arquivo é também a proteção da liberdade e da cultura que neles se guardam.
Num tempo em que a política parece reduzir-se a slogans e disputas estéreis, lembrar que o património nos pertence a todos é um ato de resistência.
Visitar um monumento nestas jornadas não é um simples passeio: é uma forma de afirmar que a nossa história não se vende, não se apaga, não se manipula.
E talvez seja isso que mais precisamos hoje: reaprender a olhar as pedras e os símbolos, não como peso morto do passado, mas como promessas silenciosas do futuro. Porque cada pórtico aberto nestas jornadas é também uma porta que se abre em nós.

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