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"O bom Cristão, o mau Cristão e os Judeus”, ou apenas “Aristides”

Pela importância do tema, do pensamento e qualidade do homem que o pensou, fomos todos favoráveis à apresentação do texto ao vasto público maçónico.


A Equipa, do,

My Fraternity

MY FRATERNITY

Meu Q Ir,


A propósito do site MyFraternity lembrei-me de uma prancha que apresentei na GLUP em Maio de 2013. Era a propósito de Aristides de Sousa Mendes. Não tem um título próprio, poderia ser “O bom Cristão, o mau Cristão e os Judeus”, ou apenas “Aristides”.


Não sei se o site seria um bom espaço para este texto (mesmo que tenha que levar alguns ajustamentos) mas aqui vai de qualquer maneira para o meu Irmão ler:


MY FRATERNITY

Aristides


Não sei bem porquê, mas a vida de Aristides de Sousa Mendes, assim como a época em que ele viveu impressionam-me profundamente.


Foi talvez um artigo de Esther Mucznik, no site oficial do Yad Vashem (http://www.yadvashem.org/yv/es/education/articles/article_mucznik6.asp) , que me fez porventura reflectir mais profundamente sobre a razão de ser deste meu estado de espírito sempre que ouço falar de Aristides.


Investigava eu sobre os "Justos entre as nações" quando deparei com este artigo, onde descobri que havia outro português, para além de Aristides, que mereceu o título de "Justo". De seu nome Sampaio Garrido, embaixador de Portugal na Hungria durante o período de 39 a 44 do séc. XX. Juntamente e em colaboração com ele outro nome sobressai claramente: Teixeira Branquinho. Este não recebeu o título, não sei bem porquê e será interessante mais tarde voltar e analisar este assunto, não por causa dos títulos, ou pela sua falta, mas apenas porque os nomes são dignos de que honremos a sua memória. E nós temos essa obrigação.


Mas falava eu de uma passagem de um artigo, onde justamente se referia o nome de Sampaio Garrido e Teixeira Branquinho, que contribuiu em parte para que eu percebesse o porquê da minha reverencia a Aristides de Sousa Mendes e a mística sobre os tempos em que ele conduzia o "Expresso dos Montes Hermínios". Dizia essa passagem, em jeito de conclusão:


A história nunca se repete da mesma maneira. Mas numa Europa em crise profunda onde por todo lado renascem os “verdadeiros patriotas”, o exemplo destes dois homens mostra que o realismo político não é incompatível com a ética e a moral. Pelo contrário, sem estas não passa de tacticismo oportunista e rasteiro que hoje é infelizmente a norma.


É este um paralelo que inevitavelmente faço. A "Europa em crise profunda" da II Guerra e a "Europa em crise profunda" de hoje onde a Alemanha é um denominador comum. Não quero nesta data e, porventura nem seria justo, adiantar este raciocínio mas o sentimento não posso evitá-lo e os factos estão à vista.


Mas leia-se o restante e que isso nos sirva de ânimo para cumprirmos o nosso dever e a nossa obrigação do dia a dia, como Homens perante Deus, que a isso nos obriga a nossa condição de Maçons (na realidade Martinez de Pascually dizia que Homem e Maçon são uma e a mesma coisa): "O realismo político não é incompatível com a ética e a moral". Atente-se novamente no paralelismo entre as duas épocas. Olhemos à nossa volta. O rasto de incompetência e desorientação por parte dos nossos governantes e aspirantes a tal cargo, a selvajaria económica e política que grassa na Europa, sem fim à vista, a falta de moral que pulula nas instituições que supostamente existem para nos ajudar, faz-nos pensar se a conduta moral ainda servirá de alguma coisa, que não sejam embaraços e pesos que nos impedem de avançar a "torto e a direito" rumo a um nada mascarado de mil objetivos. O realismo político de então e o de hoje pode resumir-se num termo: "o caos". E no meio desse caos, houve os Aristides de Sousa Mendes, os Sampayo Garrido e os Teixeira Branquinho. Quem são os "justos" de hoje? Eles existem. Eles estão aí.


Pensemos então em Aristides e neste contexto de guerra onde o "tacticismo oportunista e rasteiro" eram a norma . Pensemos no turbilhão que deveria ir naquela cabeça, a carreira, os objetivos pessoais, a Família, o dever de lealdade profundamente enraizado para com a Pátria, ainda para mais num monárquico; e os desgraçados, refugiados, perdidos, esfomeados, feridos, orfãos, gente sem esperança, o "deshumanismo", os farrapos, os homens, mulheres e crianças, velhos e novos, equiparados a bestas, perseguidos pela sua condição de terem nascido quem não deviam: os filhos de Deus, os irmãos.


Deus, Pátria, Família. Depois de três dias na cama, sofrendo de febre, em convulsão física e moral, exausto pelo trabalho, Aristides levantou-se, sereno, consciente, corajoso e escolheu: Deus! E assim ficou. Até morrer. Apesar de todas as consequências, terríveis, que teve não só ele, pessoalmente, mas toda a sua Família. E a Pátria, também na altura impotente, de rastos sob outros ditadores e outros ditados, sofreu também, envergonhada, até ao dia em que se libertou no ano 1986, com a reabilitação do Cônsul, 32 anos depois da sua morte.


E assim me encontro eu muitas vezes, perante o atual contexto de um País onde parece que já não há lei, e de uma Europa débil, definhando, pensando: Teria eu a coragem de Aristides? Seria eu capaz de pensar, sequer, nos outros quando parecia que tudo me tiravam a mim? Não me revoltaria contra Deus e contra os Homens?


Quando o Rabino Kruger, num passeio por Lisboa com um Aristides arruinado, na miséria, com toda a sua família dispersa e castigada pelo regime, lhe perguntava: "Se soubesse que as consequências do seu ato em França seriam estas voltaria a fazer o mesmo?", e outras perguntas semelhantes, não contava certamente que as respostas fossem: "Se milhares de judeus estão sofrendo por um cristão (Hitler) não há dúvida que um cristão pode sofrer por tantos judeus"; "Deus assim o quis. Limitei-me a fazer a Sua vontade e sinto-me feliz com isso".


Aristides mostrou ser um verdadeiro Cristão. E nós?

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