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- Grande Loja do Congo reúne-se em Brazzaville após dois anos de pausa
Brazzaville prepara-se para receber, no próximo dia 18 de outubro, a assembleia geral da Grande Loja do Congo. Será a primeira vez, em dois anos, que os maçons do país se voltam a reunir formalmente, num encontro convocado pelo Grão-Mestre Denis Sassou-Nguesso. A reunião, que acontece no coração da capital congolesa, assume particular relevância para a comunidade maçónica local, que esteve marcada por um período de suspensão das atividades presenciais. A decisão de retomar as assembleias surge num contexto político e social delicado, em que a Maçonaria procura reafirmar o seu papel como espaço de diálogo, de solidariedade e de coesão. Contexto político e social Denis Sassou-Nguesso, chefe de Estado e também Grão-Mestre, desempenha um papel central nesta convocatória. A sua liderança é vista, por uns, como sinal de continuidade e, por outros, como reflexo da ligação histórica entre as instituições políticas e as obediências maçónicas em África. Nos últimos anos, várias organizações maçónicas internacionais têm reforçado a sua presença no continente, reconhecendo o potencial do espaço africano como polo de expansão cultural, social e espiritual. O regresso da assembleia congolesa a Brazzaville será, assim, também acompanhado com atenção por maçons de outras jurisdições. Um encontro simbólico Além da componente administrativa, espera-se que a reunião inclua debates sobre a função da Maçonaria no Congo contemporâneo, num momento em que o país enfrenta desafios de desenvolvimento e governação. A assembleia é vista como uma oportunidade para reforçar laços internos e projetar a Grande Loja do Congo no plano internacional. Com esta iniciativa, a Maçonaria congolesa procura mostrar que continua a ser uma voz ativa na sociedade, não apenas pela tradição, mas pela capacidade de reunir homens e mulheres em torno de ideais de fraternidade e de progresso coletivo. Descubra mais em Cultura & Sociedade Bandeira congolesa hasteada em Brazzaville. #Congo #Brazzaville #Maçonaria #GrandeLojaDoCongo #África #Sociedade #História #FrancMaconaria
- Route 33 destaca Portugal como destino maçónico europeu
GLNP e espaços emblemáticos como a Regaleira e o Convento de Cristo integram a cartografia da Maçonaria Regular Grande Loja Nacional Portuguesa e património simbólico ganham relevo no itinerário cultural. Portugal ocupa um lugar de destaque no itinerário europeu da Route 33 — Património Maçónico Europeu , que reúne espaços, memórias e instituições ligadas à tradição da Maçonaria Regular e Tradicional. Entre os pontos assinalados, sobressai a fundação da Grande Loja Nacional Portuguesa (GLNP) , em 9 de março de 2000, hoje uma das principais obediências maçónicas do país. A GLNP caracteriza-se pelo rigor na prática da Maçonaria Regular e Tradicional, inspirada na Constituição de Anderson (1723). Trabalha nos três graus simbólicos do Rito Escocês Antigo e Aceite — Aprendiz, Companheiro e Mestre — preservando os usos e costumes transmitidos ao longo de séculos. A sua presença internacional é igualmente relevante, integrando a Confederação das Grandes Lojas Unidas, bem como a Confederação Internacional das Grandes Lojas do Rito Escocês Antigo e Aceite, que reúne obediências regulares e tradicionais de todo o mundo. Lugares de referência em Portugal Para além da dimensão institucional, a Route 33 sublinha locais de forte simbolismo esotérico e cultural, que fazem parte da herança maçónica portuguesa: Quinta da Regaleira (Sintra) : obra de António Augusto Carvalho Monteiro, é um verdadeiro santuário de simbolismo iniciático, com destaque para o Poço Iniciático, em espiral descendente, que evoca a viagem interior do iniciado. Palácio Maçónico do Grande Oriente Lusitano (Lisboa) : sede da obediência mais antiga de Portugal, testemunho vivo da presença maçónica no país. Museu Maçónico Português (Lisboa) : espaço museológico que conserva documentos, objetos e ornamentos, dando conta da evolução da Maçonaria desde o século XVIII. Trindade (Lisboa) : antigo convento convertido em cervejaria, decorado com painéis de azulejos de simbologia maçónica. Cemitério dos Prazeres (Lisboa) : local onde repousam várias figuras ligadas à Maçonaria, com mausoléus repletos de símbolos como o Olho que Tudo Vê, o esquadro e o compasso. Quinta de São José (Bucelas) : propriedade com templos dedicados à Arte Real, ligada à tradição da Grande Loja Nacional Portuguesa . Convento de Cristo (Tomar) : monumento templário classificado como Património da Humanidade pela UNESCO, onde muitos veem símbolos que dialogam com a tradição maçónica. Portugal na cartografia maçónica europeia Ao integrar estes lugares e instituições no seu roteiro, a Route 33 reconhece em Portugal não apenas um património arquitetónico e simbólico, mas também uma herança espiritual que liga passado e presente. A GLNP, pela sua fidelidade à Maçonaria Regular e pela sua atividade internacional, surge como um dos pilares desta cartografia. A presença portuguesa na Route 33 confirma a relevância histórica e cultural do país no panorama maçónico europeu, oferecendo a visitantes e investigadores uma oportunidade única de descobrir espaços onde a espiritualidade, a cultura e a cidadania se cruzam. Consulte também o nosso Centro de Estudos Fachada da Quinta da Regaleira, em Sintra, local de simbolismo iniciático integrado na Route 33. Foto: © My Fraternity / Mídia do Wix / #Cultura #Reflexão #Fraternidade #loja #França #Maçonaria #Portugal #Route33 #GLNP #PatrimónioCultural © 1996 – 2025 by My Fraternity News. Projeto independente de reflexão e cultura, nascido em formato impresso e digitalizado em 2017. Unido pela fraternidade, pela palavra e pelo compromisso com a liberdade intelectual.
- Sarah Mullally torna-se a primeira mulher a liderar a Igreja Anglicana
A antiga enfermeira-chefe do Reino Unido assume o cargo de Arcebispa da Cantuária, rompendo 1.400 anos de tradição masculina. A Igreja de Inglaterra anunciou esta sexta-feira, 3 de outubro, a nomeação de Sarah Mullally como nova Arcebispa da Cantuária , tornando-se a primeira mulher a ocupar o mais alto cargo espiritual da comunhão anglicana mundial, num gesto histórico que divide opiniões entre conservadores e liberais. Com 63 anos, Mullally — antiga enfermeira e responsável pelos serviços de saúde pública britânicos — sucede a Justin Welby, que renunciou ao cargo após críticas relacionadas com casos de abuso e com a crescente polarização dentro da Igreja. A sua nomeação representa uma mudança profunda numa instituição que, ao longo de catorze séculos, foi liderada exclusivamente por homens. Durante a cerimónia em Cantuária , a futura primaz declarou a sua intenção de “servir todas as tradições e ministérios”, apelando à reconciliação entre alas mais conservadoras e setores que defendem a plena igualdade de género e o acolhimento das pessoas LGBTQ+. Mullally, que desde 2018 exercia funções como Bispa de Londres , tem sido uma das vozes mais firmes em favor das bênçãos a casais do mesmo sexo e da revisão das práticas de salvaguarda dentro da Igreja, após anos de escândalos ligados à proteção de menores. As reações foram imediatas. Enquanto líderes religiosos britânicos saudaram o avanço como “um passo inevitável rumo à equidade espiritual”, vários responsáveis anglicanos africanos manifestaram oposição. O arcebispo do Ruanda, Laurent Mbanda , considerou que a escolha “não trará unidade”, e um bispo nigeriano descreveu a decisão como “perigosa”, reiterando que “Deus nunca entregou a liderança à mulher”. Em resposta, Mullally sublinhou que a Igreja “deve enfrentar as suas sombras com coragem”, e condenou o aumento do antissemitismo e da violência religiosa no Reino Unido, referindo o recente ataque a uma sinagoga em Manchester. O Vaticano , através de um comunicado, reconheceu o “valor simbólico e os desafios consideráveis” da nomeação, lembrando que, apesar de manter a proibição da ordenação feminina, partilha “a preocupação pela dignidade e proteção das pessoas vulneráveis”. A Arcebispa será oficialmente entronizada na Catedral de Cantuária em março de 2026, tornando-se a figura espiritual mais visível dos mais de 85 milhões de fiéis anglicanos em todo o mundo. Casada e mãe de dois filhos adultos, Sarah Mullally tem repetido que a fé e a medicina partilham a mesma vocação: “Ambas são formas de cuidar da vida — especialmente quando a vida dói. Veja mais em Estilo & Vida Catedral de Cantuária Imagem: Unsplash / Wix Media #SarahMullally #IgrejaAnglicana #Cristianismo #Religião #História #Igualdade
- O Simbolismo do Aprendiz Maçon
O Aprendiz Maçon é o símbolo vivo do início do caminho, da escuta e do silêncio que antecede a luz. Entre a Pedra Bruta e o Templo Interior Há símbolos que atravessam os séculos sem perder o seu fulgor, porque não pertencem apenas a uma época ou a uma língua, mas à alma humana que procura compreender-se. O Aprendiz Maçon é um desses símbolos vivos — arquétipo da busca, da disciplina e do renascimento interior que define a própria essência da Iniciação. O Aprendiz não é apenas o primeiro grau de uma hierarquia iniciática: é a imagem do homem que, ao reconhecer a sua imperfeição, decide começar o seu aperfeiçoamento. No instante em que lhe é colocada nas mãos a pedra bruta e o maço, o iniciado aceita o maior desafio da condição humana: transformar-se a si próprio antes de tentar transformar o mundo. A Maçonaria chama-lhe “Aprendiz” porque nenhum homem está pronto, e porque a verdadeira sabedoria começa na humildade de aprender. Todo o Templo é erguido a partir dessa pedra imperfeita — o ser humano — que só o trabalho, o silêncio e a vontade podem lapidar. A Pedra Bruta e o sentido do trabalho A pedra bruta, símbolo central do Aprendiz Maçon, representa a matéria ainda informe, o eu por trabalhar. É a imagem da natureza humana antes da luz, com todas as suas asperezas e resistências. Trabalhar sobre ela não é destruir, mas revelar — libertar a forma que já existe no interior da pedra, como o escultor que vê a estátua antes do golpe do cinzel. Cada golpe do maço é um ato de vontade, cada fragmento que cai é uma imperfeição que se reconhece e se vence. A transformação da pedra bruta em cúbica é, pois, o primeiro exercício espiritual: dominar o impulso, retificar a conduta, ordenar o pensamento. Este trabalho é solitário, mas não isolado. A Loja é o canteiro simbólico onde todos os Aprendizes trabalham lado a lado, cada um sobre a sua própria pedra, e é dessa pluralidade de esforços que nasce o edifício comum — o Templo da Humanidade. O Templo Interior Quando o Aprendiz ouve falar do Templo, imagina talvez um edifício de colunas e luzes, mas depressa compreenderá que o Templo é ele mesmo. A Maçonaria não constrói edifícios de pedra: constrói consciências. O Templo é o lugar invisível onde o espírito e a matéria se reconciliam; é a consciência purificada, orientada pela Luz que o Venerável Mestre simboliza. A construção do Templo interior é gradual e exige método. Primeiro aprende-se a desbastar; depois, a medir; finalmente, a colocar cada pedra no seu lugar. Por isso o Aprendiz aprende os instrumentos: o maço e o cinzel (força e discernimento), o esquadro (retidão moral) e o compasso (limite e medida). Cada um destes instrumentos é um princípio ético: o maço sem o compasso é brutalidade; o compasso sem o maço é indecisão; o esquadro sem o cinzel é rigidez. Só o equilíbrio entre eles revela a harmonia do construtor. O Silêncio e a Escuta O primeiro dever do Aprendiz é o silêncio. Não um silêncio passivo, mas criador — o silêncio que escuta, que observa, que prepara. No ruído do mundo profano, a palavra é usada para convencer; no silêncio do Templo, a palavra é reencontrada para significar. O silêncio do Aprendiz não é imposto: é aceite como disciplina interior. Serve para que a palavra, quando finalmente for pronunciada, seja justa. O silêncio não é ausência, é presença atenta. Ele ensina o Aprendiz a discernir o essencial, a ver antes de falar, a compreender antes de julgar. Na vida contemporânea, dominada por discursos e superficialidades, este silêncio torna-se ainda mais necessário. É nele que o Maçon reaprende a pensar com profundidade e a ouvir com respeito. A Luz e as Trevas O ritual de iniciação começa na obscuridade. A venda sobre os olhos não é punição, mas símbolo da ignorância que precede o conhecimento. A luz que o Aprendiz recebe ao final do percurso não é a luz física — é o reconhecimento de uma verdade interior. Cada Maçon é, por isso, um portador de luz. Mas a luz só tem sentido se iluminar também o caminho dos outros. É por isso que o Aprendiz, mesmo no grau mais humilde, tem já uma missão: aprender a ser exemplo. No mundo profano, a luz é poder; na Maçonaria, é responsabilidade. Não basta ver — é preciso compreender o que se vê e agir em conformidade. Consulte também o nosso Centro de Estudos O Simbolismo do Aprendiz Maçon A Geometria Moral A simbologia do Aprendiz é também uma lição de geometria espiritual. O esquadro e o compasso, que delimitam o espaço e traçam a ordem, ensinam a viver com medida. A retidão moral do esquadro corresponde à sinceridade nas ações; a medida do compasso recorda-nos que tudo deve ter proporção e equilíbrio. No gesto simbólico de traçar uma linha reta, o Aprendiz aprende a alinhar o pensamento e a ação. A geometria é uma forma de ética: ordena o caos interior e orienta o ser humano para a harmonia. Por isso o Templo é orientado de Ocidente a Oriente — caminho do homem da sombra à luz, do erro à consciência. Cada passo dado nesse trajeto é um ato de retificação. A Dimensão Coletiva da Iniciação Ser Aprendiz é aprender a trabalhar consigo mesmo, mas também com os outros. O Templo não se ergue com pedras isoladas: é a união entre elas que lhe dá força. A fraternidade não é uma ideia abstrata, é um método de construção moral. No canteiro simbólico, cada Maçon é uma pedra; o Mestre é o arquiteto; e a harmonia é o cimento que une todos os esforços. A Loja ensina que o progresso individual e o coletivo são inseparáveis — ninguém se eleva sozinho. Por isso o Aprendiz aprende a ouvir, a respeitar e a colaborar. O trabalho simbólico prepara-o para agir no mundo profano com a mesma retidão e espírito de serviço que aplica no Templo. O Aprendiz e o Mundo Contemporâneo Num tempo em que tudo se mede pelo imediato, o Aprendiz recorda que o verdadeiro trabalho é o da duração. A sua paciência, o seu silêncio e o seu esforço são um desafio à pressa e à dispersão do mundo atual. Enquanto o mundo valoriza o visível, ele trabalha no invisível; enquanto a sociedade procura a aparência, ele busca a essência. O seu labor é contracorrente, mas necessário: porque sem interioridade não há civilização duradoura. A Maçonaria renasce sempre que um homem decide ser Aprendiz. O Aprendiz Maçon é o alicerce de tudo — a lembrança de que a construção espiritual do mundo começa no aperfeiçoamento de cada um. A Arte de Começar Ser Aprendiz é viver num estado de começo permanente. A cada sessão, a cada estudo, a cada gesto, o Maçon renova o voto de trabalhar sobre si próprio. A pedra bruta nunca está completamente acabada — e é isso que garante que a Obra nunca cessa. O Aprendiz não sabe tudo, mas sabe algo essencial: que o conhecimento é um caminho, não uma chegada. É esse o seu tesouro. O verdadeiro simbolismo do Aprendiz Maçon é o da esperança: a crença de que o ser humano pode aperfeiçoar-se, que a fraternidade é possível, que o Templo pode ser reconstruído dentro e fora de nós. Foto @ - Imagem original criada por inteligência artificial sob a direção editorial de My Fraternity — Série Os Graus Simbológicos da Maçonaria. #MyFraternity #HistóriaDePortugal #Lisboa #Tejo #Portugal #CulturaPortuguesa #IdentidadeNacional #Fraternidade #Ensaio #História #Património #Reflexão #MyFraternity © 1996 – 2025 by My Fraternity News. Projeto independente de reflexão e cultura, nascido em formato impresso e digitalizado em 2017.Unido pela fraternidade, pela palavra e pelo compromisso com a liberdade intelectual.
- O Companheiro Maçon
O Caminho do Conhecimento e da Medida Entre o Aprendiz e o Mestre há um intervalo luminoso onde o trabalho se converte em conhecimento e o esforço em compreensão. É nesse espaço simbólico que nasce o Companheiro Maçon — figura de passagem, de busca e de síntese. O Companheiro não é o que terminou o trabalho, nem o que o começou, mas aquele que o compreendeu. Na linguagem maçónica, o grau de Companheiro representa o homem que aprendeu a dominar a pedra bruta e agora procura entender o mundo que o cerca. Deixa o martelo e o cinzel como ferramentas principais e toma em mãos o esquadro, a régua e o nível. O seu labor já não é apenas o de corrigir-se, mas o de medir, ordenar e aplicar — porque a arte do construir exige ciência, e o conhecimento é a sua forma mais elevada. Da Pedra ao Cálculo Enquanto o Aprendiz trabalha na intimidade do silêncio e do autodomínio, o Companheiro entra na geometria da criação. Aprende a ver proporções, a compreender que o universo é regido por leis de equilíbrio e correspondência. Onde antes havia apenas a vontade de aperfeiçoar-se, surge agora a consciência de que o ser humano participa de uma harmonia universal. A régua ensina-lhe a reta intenção; o nível, a igualdade; o esquadro, a justiça e a medida justa. O Companheiro aprende que toda a construção — material ou espiritual — só subsiste quando é exata. A desordem nasce do excesso, o erro da impaciência. Medir é compreender o limite e a função de cada coisa. Mas o cálculo de que a Maçonaria fala não é o da matemática comum. É o cálculo moral, a medida interior que permite ao homem ser justo nas suas ações e equilibrado nos seus juízos. Por isso o Companheiro é o símbolo do homem que aprende a pensar antes de agir, a discernir antes de falar, a ponderar antes de decidir. O Caminho do Conhecimento O Aprendiz descobre-se a si próprio; o Companheiro descobre o mundo. Sai do espaço fechado da pedra e caminha para o vasto campo da experiência. O seu templo é agora o universo visível, onde tudo é símbolo e tudo ensina. A Maçonaria chama-lhe “viagem” — não no sentido profano do deslocamento físico, mas como travessia da ignorância à sabedoria. O Companheiro viaja por cinco pontos cardeais do espírito: o saber, a observação, o trabalho, o discernimento e a fraternidade. Cada viagem é uma lição de humildade e de rigor. O Companheiro aprende que o conhecimento não é posse, mas serviço; que a verdade não se guarda, partilha-se. O saber que não se comunica é estéril — e o verdadeiro maçon constrói para os outros tanto quanto para si. A Escada de Sete Degraus O símbolo central do Companheiro é a escada — representação do progresso, do esforço e da elevação. Sete são os degraus que conduzem o homem da terra ao céu, do visível ao invisível. Cada degrau é uma virtude e uma etapa: o estudo, o trabalho, a paciência, a retidão, a prudência, a fé e a sabedoria. Subir a escada não é fugir do mundo, mas compreendê-lo melhor. O Companheiro sabe que só pode ascender quem permanece firme no solo da realidade. A verdadeira ascensão é a da consciência. O número sete não é arbitrário: é o da plenitude. Representa a união do espírito (três) com a matéria (quatro), e recorda ao Companheiro que o homem é ponte entre ambos. O seu dever é manter essa ligação viva — unir o que está separado, reconciliar o que o mundo dividiu. O Trabalho do Companheiro Enquanto o Aprendiz aprende a dominar as suas paixões, o Companheiro aprende a aplicá-las. A energia bruta é agora força consciente. O seu trabalho é mais mental que físico, mais de conceção do que de execução. Torna-se arquiteto do pensamento. A Loja, que antes era o seu canteiro, transforma-se num laboratório de ideias. O Companheiro estuda a simbologia, a história, a ciência e as artes liberais, porque o verdadeiro maçon deve ser um homem culto. O estudo, para ele, não é vaidade, é dever. O Companheiro que estuda amplia a luz recebida no grau anterior; aquele que não estuda, apaga-a lentamente. A ignorância voluntária é treva — e a Maçonaria é caminho de luz. Por isso, o Companheiro é o grau da curiosidade disciplinada, da inteligência orientada. Aprende que o saber sem ética é tão perigoso como a força sem medida. A Medida e o Equilíbrio O Companheiro é o guardião da medida. Já não age por instinto, mas por consciência. Sabe que todo o excesso conduz à queda — mesmo o excesso de virtude, quando não é temperado pela prudência. A régua e o nível são os seus instrumentos morais. A régua ensina-o a caminhar direito, sem desvios de egoísmo; o nível, a reconhecer a dignidade de todos os homens. Na Loja, todos estão ao mesmo nível — o que recorda que a verdadeira igualdade não é uniformidade, mas respeito. O Companheiro aprende que a harmonia nasce da diferença, e que a fraternidade não exige pensar igual, mas agir com justiça. O equilíbrio que busca é também interior. É a harmonia entre razão e sentimento, entre fé e dúvida, entre ação e contemplação. A Maçonaria não pede ao homem que negue a sua natureza, mas que a ordene. O Silêncio e a Palavra O Aprendiz aprende a calar; o Companheiro aprende a falar. Mas falar, na linguagem simbólica, é muito mais do que pronunciar palavras: é dar forma àquilo que o silêncio amadureceu. O Companheiro deve saber quando a palavra edifica e quando destrói. Aprende a falar com propósito, a comunicar com clareza e moderação. Na Loja, cada intervenção é uma pedra colocada no edifício coletivo. A palavra do Companheiro é medida, porque nasce do discernimento. O silêncio ensinou-lhe o valor do tempo; agora ele usa a palavra como instrumento de construção. A Luz do Entendimento No grau de Companheiro, a luz não é já a revelação do ser, mas a compreensão do mundo. É uma luz que analisa, que distingue, que reflete. O Companheiro deixa de olhar apenas para dentro e aprende a olhar para fora — a ver no universo o reflexo das mesmas leis que regem a alma. Por isso, o Companheiro é também um estudioso da natureza. O Rito Escocês chama-lhe “Filho da Luz” porque ele começa a ver o cosmos como uma obra de geometria divina. Cada estrela é um ponto de um desenho que só a sabedoria pode ler. A luz que ele busca é o conhecimento que liberta — o que une ciência e espírito, razão e fé, ação e contemplação. O Caminho do Meio Entre a rigidez do dogma e o caos da ignorância, o Companheiro segue o caminho do meio. É o caminho da liberdade responsável — aquele que permite pensar sem romper a harmonia. A Maçonaria ensina-lhe que a verdade tem muitas faces e que só a tolerância permite reconhecê-las. A intolerância é sempre sinal de trevas, porque quem não suporta a diferença ainda não viu a luz inteira. O Companheiro aprende a viver com dúvida e com fé ao mesmo tempo — como quem caminha entre dois mundos, consciente de que o mistério é parte da verdade. Símbolos Maçónicos: Compasso, Esquadro e Régua O Companheiro e a Sociedade O trabalho do Companheiro não termina na Loja. Ele é chamado a ser construtor no mundo profano — um exemplo de retidão, de cultura e de serviço. O verdadeiro Maçon não foge da sociedade: transforma-a com o seu exemplo. O Companheiro é o homem que, tendo aprendido a medir a si próprio, mede agora as injustiças do mundo e trabalha para as corrigir. O seu compromisso é ético: levar ao mundo a harmonia que experimenta no Templo. Num tempo em que o ruído e a pressa dominam, o Companheiro recorda que o conhecimento exige paciência e método; que o progresso sem moral é desordem; e que a liberdade sem disciplina é apenas nova forma de servidão. A Arte de Compreender Se o Aprendiz simboliza o começo, o Companheiro simboliza a travessia. É o homem que já não teme a escuridão, porque compreendeu que a luz nasce dela. É o construtor que sabe que cada erro é uma lição, cada queda uma iniciação. O verdadeiro Companheiro é aquele que aprendeu a ver — ver com os olhos da razão e do coração, ver o que os outros apenas olham. O seu trabalho é compreender, e compreender é o mais alto exercício da fraternidade. Porque só quem compreende perdoa, e só quem perdoa constrói. O Companheiro Maçon é o guardião da medida, o artífice do equilíbrio e o peregrino do saber. A sua viagem é longa, mas bela — porque cada passo é já um fragmento de luz. @ - Imagem original criada por inteligência artificial sob a direção editorial de My Fraternity — Série Os Graus Simbológicos da Maçonaria. Este artigo faz parte da série Os Graus Simbológicos da Maçonaria . Leia também: – O Simbolismo do Aprendiz Maçon – O Companheiro Maçon — O Caminho do Conhecimento e da Medida (atual) – O Mestre Maçon — A Luz da Transcendência. Foto: © My Fraternity / ChatGPT #MyFraternity #HistóriaDePortugal #Lisboa #Tejo #Portugal #CulturaPortuguesa #IdentidadeNacional #Fraternidade #Ensaio #História #Património #Reflexão #Companheiro #Maçon #Simbolismo © 1996 – 2025 by My Fraternity News. Projeto independente de reflexão e cultura, nascido em formato impresso e digitalizado em 2017.Unido pela fraternidade, pela palavra e pelo compromisso com a liberdade intelectual.
- Portugal entre a Terra e a Ideia: História, Geografia e Consciência Nacional
Preâmbulo: a História como lição A história não é um repositório de lisonjas: é um método exigente para olhar o humano sem véus. Se a tomarmos a sério, obriga-nos a duas fidelidades simultâneas — uma, à realidade documentada ; outra, à consciência crítica que coordena factos, costumes e ideias. É por isso que a história útil à cidadania não é a que coleciona façanhas, mas a que separa fontes de fábulas , lê a geografia onde outros viram destino, e aceita que as nações se fazem menos por milagres e mais por escolhas, equilíbrios e acidentes. Portugal é um bom laboratório para esta disciplina: um território estreito, vertical, encostado ao Atlântico; rios que correm perpendicularmente ao mar; serras que travam — ou libertam — ventos e chuvas; e um povo que aprendeu a descer do granito para o cais, da encosta para a barra. Não se explica o nosso percurso sem a grande muralha húmida do Norte , sem as altitudes secas do interior , sem a planura solar do Sul , nem sem o estuário largo que fez de Lisboa uma praça do mundo . A paisagem educa: no Minho, a persistência; na Estrela, a dureza; no Alentejo, a gravidade; no Algarve, a leveza lúcida de quem fala com o mar. Da mesma forma, não se confunde nacionalidade com independência . Esta nasceu de equilíbrios medievais, alianças oportunas e audácias de fronteira. Aquela é obra lenta: língua administrada, arquivos, escolas, tradições, e uma cansativa prática de governo. A revolução de Avis levou o tema da independência ao coração popular; as navegações deram-lhe projeção; o império oriental mostrou o limite; a restauração devolveu o espaço mínimo para continuarmos a existir. Quase sempre com um apoio externo a amortecer a pequenez, e quase sempre com uma plasticidade que ora nos salvou, ora nos dissolveu. Não é demérito reconhecer isto. É maturidade. Um país que se pensa como comunidade moral , e não como altar de heroísmos de catálogo, olha os seus arquivos com humildade, a sua geografia com atenção e o seu futuro com prudência — a prudência dos marinheiros que partem devagar e chegam longe. A utilidade da história, aqui, é pública: saber quem somos , aceitar o que não somos e decidir o que queremos ser . Este ensaio propõe precisamente isso: ligar a Terra à Ideia — território, clima, rios e serra — às instituições e às escolhas que nos tornaram Portugal, sem pedir à lenda o que pertence ao arquivo, e sem pedir ao arquivo a poesia que o país merece. Autora: Maria Teresa Fontes de referência: Biblioteca Nacional de Portugal Lisboa e o Tejo: entre a terra firme e a ideia de partida. Publicado por My Fraternity — Revista de Cultura e Fraternidade Ensaio baseado em investigação histórica e fontes clássicas. Atualizado periodicamente no âmbito da coleção “História e Cultura”. Foto: © My Fraternity / Wix Media Support #MyFraternity #HistóriaDePortugal #Lisboa #Tejo #Portugal #Geografia #CulturaPortuguesa #IdentidadeNacional #Fraternidade #Ensaio #História #Património #Reflexão © 1996 – 2025 by My Fraternity News. Projeto independente de reflexão e cultura, nascido em formato impresso e digitalizado em 2017.Unido pela fraternidade, pela palavra e pelo compromisso com a liberdade intelectual.
- Dan Brown e o arquétipo do Golem: Praga como laboratório da consciência
Introdução — Entre a ficção e o símbolo. O novo romance de Dan Brown, O Segredo dos Segredos ( The Secret of Secrets , 2025), marca o regresso de Robert Langdon e a estreia do protagonista na cidade de Praga. A intriga começa quando Langdon viaja para assistir a uma conferência de Katherine Solomon — aqui, apresentada como cientista da noética — e rapidamente se vê envolvido em assassinato, desaparecimentos, códigos e um projeto clandestino que promete “mudar o que pensamos sobre a mente humana”. O cenário não é arbitrário: Praga, capital de camadas históricas e mitos, acolhe também o mais célebre de todos os golems. Dan Brown Official Website+2Wikipedia+2 A edição francesa (JC Lattès) e os materiais editoriais confirmam a centralidade de Praga, da noética e do manuscrito de Katherine como motores narrativos. A cobertura de imprensa internacional (AP, Le Monde , PBS) detalha ainda o arco que leva de Praga a Londres e Nova Iorque, sem perder o foco num antagonista “nascido da mitologia praguense”. PBS+4editions-jclattes.fr+4JC Lattès+4 Este ensaio não é uma recensão “entusiasmada”: é uma leitura crítica para separar o que é documento histórico , o que é tradição literária e o que é licença ficcional — condição necessária para uma cultura cívica que saiba distinguir ciência, mito e entretenimento. Praga hermética — do laboratório do imperador ao turismo do mistério “Praga é um laboratório”, insiste a tradição europeia desde o século XVI, quando o imperador Rodolfo II reuniu alquimistas, naturalistas e coleções de curiosidades. Na cidade cruzaram-se lendas judaicas (o Maharal de Praga), interesses alquímicos, astrologia de corte, proto-ciências e imaginários de transmutação espiritual. Essa aura hermética é hoje um ativo turístico, mas tem bases rastreáveis na erudição judaica e no colecionismo esotérico do período. (Para o leitor que procure itinerários concretos, assinale-se a bibliografia local e até guias contemporâneos que percorrem as localizações do romance.) Prague City Adventures O romance de Brown adere a esse “palimpsesto”: sinagogas do Bairro Judeu, o cemitério, o Castelo, a Ponte Carlos e bibliotecas antigas funcionam como palcos onde o enredo alterna pistas simbólicas e perseguições. O efeito é familiar a leitores de O Código Da Vinci e O Símbolo Perdido : recontextualizar lugares reais pela lente do mito. Dan Brown Official Website+1 O mito do Golem — do Talmude ao romance popular 1) O que a tradição judaica realmente diz O Golem, ser moldado de barro e animado por um Nome Divino, é um tema da literatura rabínica e da mística judaica. Na forma hoje mais conhecida — o Golem de Praga do rabino Judah Loew (o Maharal) — a lenda é tardia e consolidou-se sobretudo a partir do século XIX, com uma forte camada de recriação literária. Eruditos como Gershom Scholem recordaram que a fama “praguense” do Golem, tal como hoje a conhecemos, é recente se comparada com a tradição mais ampla do golem na literatura judaica (onde a criatura é, frequentemente, figura auxiliar, sem sexualidade e sem autonomia moral). commentary.org +2AJL Publishing+2 2) Como a versão “de Praga” se fixou Estudos académicos apontam que a narrativa específica do “Golem de Praga”, ligada ao Maharal, se codificou entre meados do século XIX e inícios do século XX, alimentada por compilações, folhetos, romantizações e pelo crescente interesse europeu por um “Oriente interno” judaico. A crítica moderna reconstruiu esse percurso, mostrando datas, autores e camadas de reinvenção. Instituto de Matemática UH+2Journals@KU+2 3) O que a ficção pode (e deve) fazer com isso Brown dramatiza uma versão do Golem que serve ao thriller: símbolo de proteção e vingança, eco de medos políticos, avatar de dilemas tecnológicos (ver abaixo, a “armação” noética de Threshold ). O essencial é reconhecer a fronteira: o Golem de Praga é uma tradição literária , não um facto histórico com documentação coeva; a ideia de dar vida à matéria pela Palavra é um mito teológico com grande potência simbólica, não uma tecnologia perdida. The Forward Noética, ciência e limites — o que há de real por detrás da intriga Katherine Solomon , a noética e um projeto secreto que experimenta desdobramentos da consciência (experiências de quase-morte induzidas, “visão à distância”, registos do “olho da mente”): tudo isto integra o léxico ficcional do livro. O autor repete a estratégia de O Símbolo Perdido — escolher uma fronteira “quente” entre ciência e paraciência para tensionar enredo e debate público. Historicamente, houve programas militares e académicos que exploraram “percepção extra-sensorial”, visão remota e fenómenos de quase-morte — por exemplo, os arquivos do Project Stargate (EUA) e uma vasta literatura parapsicológica contemporânea. Do lado da física e da filosofia da mente, há propostas especulativas (por vezes controversas) sobre consciência e quântica (Penrose, Hameroff), e trabalhos empíricos de fronteira (Radin, Sheldrake) que a academia dominante encara com cepticismo variável. O romance opera nesta tensão: dá-lhe escala conspirativa e dramatiza conflitos éticos e políticos. AP News+1 Leitor atento: distinguir o que existe (programas reais, discussão sobre quase-morte, debates em neurociência/filosofia) de afirmações extraordinárias sem consenso é requisito de literacia científica. Brown ficcionaliza; cabe ao ensaio contextualizar. “Threshold”: quando a técnica pretende forçar o mistério (e porque isso é tema atual) A estrutura do romance apresenta Threshold como instalação clandestina, com implantes, experiências de limiar e instrumentalização da experiência de morte. Na tradição do thriller, isso condensa preocupações reais: dualidade corpo/mente, medicalização do morrer, neurotecnologias, ética do consentimento, tentação de militarizar a investigação de estados alterados. A imprensa generalista explicou o guião: Praga como ponto de ignição, perseguição europeia, deslocação para Londres e Nova Iorque e, sobre tudo, a pergunta “o que pode a consciência?”. A crítica cultural francesa sublinhou uma viragem ideológica de Brown: do cepticismo “racionalista” para uma abertura a teses parapsicológicas, com risco de confundir verosimilhança literária e validade científica. Esse juízo crítico é, por si, um contributo público valioso: mencionar fontes, exercícios de checagem e limites do argumento . AP News+1 Maçonaria, símbolo e linguagem — ecos da obra anterior Brown regressa a um terreno que o tornou fenómeno global: o símbolo como método de leitura do mundo . Em O Símbolo Perdido (2009), a Maçonaria aparecia como tradição iniciática norte-americana entre mito de fundação e imaginário popular; aqui, as referências são mais discretas, mas a “gramática” é a mesma: o símbolo opera como ponte entre materiais heterogéneos (arquitetura, ritos, arte, ciência). O leitor maçónico reconhecerá o tropo: criar, elevar, polir — trabalhar interiormente. O romance em Praga faz ressoar essa oficina com imagens do Golem (matéria animada) e a tríade alquímica (nigredo, albedo, rubedo). A maquinaria é literária; o conteúdo operativo pertence à vida real das Lojas e das tradições, não ao folhetim. Dan Brown Official Website Nigredo, Albedo, Rubedo — a tripla metáfora alquímica como estrutura narrativa O arco do livro sugere uma progressão “em três graus”: nigredo (caos, colapso, crime inicial, morte), albedo (discernimento, purificação, pistas apuradas), rubedo (síntese, revelação). Não é que Brown proponha alquimia “de laboratório”: ele usa a alquimia como narratologia simbólica — um modo de guiar o leitor por fases de desorganização e recomposição do sentido. Esta leitura é heurística, não “prova”: serve para compreender como o romance trabalha com expectativas antigas (o athanor de Praga) e ansiedades modernas (neurociência, IA, sobrevida). As referências culturais que alimentam essa metáfora (do Codex Gigas ao mito do Golem) aparecem no livro e na crítica. Le Monde.fr +1 O Golem como “máquina simbólica” — pessoa, programa ou espelho? Erudição judaica descreve o Golem como agente sem linguagem e sem eros ; literatura posterior devolve-lhe agência e moralidade ambígua. No século XX–XXI, o Golem converte-se em artefacto crítico : antecipa perguntas sobre IA, automação, robótica e responsabilidade. O romance de Brown amplifica essa transição: a criatura sai da lenda e passa a metáfora de tecnologias que excedem os seus criadores — logo, de obrigações éticas . A pergunta — “podemos?” — cede lugar à outra — “devemos?”. É aqui que o imaginário maçónico pode dialogar publicamente: liberdade, consciência e limite . AJL Publishing A cidade como texto — itinerários reais e verosimilhança ficcional A bibliografia e o jornalismo turístico local mostram como leitores começaram a percorrer “o mapa” do livro: Ponte Carlos, sinagogas, o cemitério judeu, o complexo do Castelo, bibliotecas e gabinetes de curiosidades. A verosimilhança geográfica é parte da “marca” Dan Brown: o mundo real como tabuleiro , onde se injeta ficção para produzir sensação de descoberta. Mas a regra permanece: ver in situ não substitui estudar quem escreveu e quando se inventou o que hoje é repetido como tradição. Prague City Adventures O que é verificável e o que é invenção — síntese para o leitor É real : Praga de Rodolfo II, as tradições judaicas sobre “golem” em fontes diversas, a consolidação oitocentista da lenda praguense; o uso literário moderno do tema; debates periféricos sobre “consciência” e experiências extraordinárias; projetos históricos que estudaram “visão remota”. AP News+3JSTOR+3Instituto de Matemática UH+3 É ficção (no sentido estrito): os detalhes operacionais de Threshold , a eficácia tecnológica descrita, o estatuto “probatório” da noética narrada. A boa literatura faz isto: condensa, exagera, metaforiza . Le Monde.fr Saber distinguir não mata a magia: salva o leitor do engano e amplifica o prazer — porque permite admirar a arquitetura do texto sem confundir colunas com dogmas. Receção crítica e o risco (ou virtude) da verosimilhança A receção inicial nos media de referência é clara: o romance mantém o “método Brown” (mistura de suspense, viagens, símbolos e ciência-limite), mas suscita reservas quando roça a fronteira entre ficção e “ilusão de não-ficção”. Para uns, isso é o truque que sempre funcionou; para outros, é um risco num tempo saturado de desinformação. A resposta editorial mais responsável não é censurar ficção, mas fornecer contexto . AP News+2Le Monde.fr +2 O que fica no leitor que lê com método O Segredo dos Segredos usa Praga como espelho : uma cidade de pedra e papel onde a Europa projectou há séculos esperanças de transmutação. O Golem funciona como máquina simbólica para pensar criação irresponsável vs. cuidado ético; a noética ficcionaliza o desejo contemporâneo de provar que consciência não é só cérebro. A Maçonaria surge menos como “tema expositivo” e mais como gramática do sentido (o uso do símbolo, a ética do trabalho interior, a relação entre liberdade e limite). Ler Brown com espírito crítico — e com fontes na mão — não estraga a diversão : ensina-nos a reconhecer o que é mito, o que é história e o que é hipótese . No fim, ganham todos: a ficção, por ser tomada como arte; a cultura cívica, por ser exercida; e o leitor, por sair mais livre. Referências e leituras (seleção comentada) Site oficial do livro (sinopse e locais): confirma o arranque em Praga, a conferência de Katherine Solomon e o tom “consciência/mito/ciência”. Dan Brown Official Website Doubleday/AP News (anúncio e enredo): data de publicação (9 set. 2025), itinerário (Praga-Londres-Nova Iorque), foco na consciência. AP News JC Lattès (edição francesa): sinopse e posicionamento editorial europeu. editions-jclattes.fr +1 Le Monde (recensão crítica): nota a viragem para crenças parapsicológicas e o risco de confusão entre ficção e ciência. Le Monde.fr PBS NewsHour (entrevista): Brown apresenta o livro e a sua abordagem de “mistérios e caos” com foco na mente. PBS The Forward (crónica cultural): leitura crítica do uso do Golem na trama. The Forward Gershom Scholem (ensaios sobre o Golem): quadro clássico sobre a tradição e seus limites; ajuda a distinguir mito consolidado de história documentada. commentary.org Estudos académicos sobre a “praguização” do Golem (séc. XIX): mapeiam quando e como a versão do Maharal se popularizou. Instituto de Matemática UH+1 Leituras complementares (Baer; resenhas académicas): golem na literatura moderna e pós-Holocausto; diálogo com imaginário tecnológico contemporâneo. Journals@KU+1 Guias/lugares de Praga relacionados com o romance: como a cidade e o marketing cultural estão a enquadrar o fenómeno. Prague City Adventures Nota metodológica: onde a obra faz afirmações factuais (datas, locais, tradições judaicas), cruzámos com documentação editorial, imprensa de referência e estudos reconhecidos. Onde a obra especula (ciência da consciência, eficácia tecnológica), apresentámos contexto real e o seu estatuto controverso. Sobre o autor desta investigação: © Mestre Álvaro da Serra - Historiador / Memória Maçónica / Herança e Tradição Maçónica Ponte Carlos ao entardecer, em Praga — símbolo da transmutação entre o visível e o sagrado Imagem: - My Fraternity / Martim Krchnacek / Unsplash / Wix Media Support © 1996 – 2025 by My Fraternity News . Projeto independente de reflexão e cultura, nascido em formato impresso e digitalizado em 2017. Unido pela fraternidade, pela palavra e pelo compromisso com a liberdade intelectual.
- Vaticano repreende bispos portugueses pela gestão dos casos de abuso sexual de menores
Santa Sé manifesta “profunda preocupação” com a lentidão das dioceses portuguesas na aplicação de medidas contra abusos e exige responsabilidade pastoral efetiva. O Vaticano enviou um sinal claro de desagrado à Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) pela forma como tem gerido os processos de abuso sexual de menores na Igreja Católica . Numa comunicação recente, a Santa Sé expressou “profunda preocupação” com o ritmo lento das respostas diocesanas e com a ausência de medidas pastorais consistentes em defesa das vítimas. A advertência, interpretada como um verdadeiro “puxão de orelhas” , surge após uma reunião entre responsáveis da Congregação para a Doutrina da Fé e representantes da CEP, na qual foram discutidos os resultados da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Menores na Igreja , publicada em 2023, e os compromissos assumidos desde então. De acordo com fontes próximas do processo, o Vaticano considera “insuficiente” a execução das medidas prometidas pelos bispos portugueses, nomeadamente a criação de mecanismos eficazes de denúncia, a formação de leigos para a prevenção de abusos e a comunicação pública transparente dos casos identificados. A Santa Sé terá ainda questionado a omissão de algumas dioceses que não entregaram relatórios detalhados sobre investigações internas, contrariando as orientações diretas do Papa Francisco. Recorde-se que, desde 2019, o motu proprio Vos Estis Lux Mundi estabelece a obrigatoriedade de cooperação e de celeridade em todos os processos envolvendo clérigos suspeitos. O alerta chega num momento delicado para a Igreja em Portugal, que enfrenta um clima de desconfiança e de dor entre as vítimas . Apesar de a CEP ter reconhecido publicamente os abusos e prometido indemnizações simbólicas, várias associações de sobreviventes acusam os bispos de procrastinar as ações concretas e de evitar responsabilidades diretas . Em Roma, fontes eclesiais sublinham que a paciência do Papa Francisco “não é infinita” e que a sua prioridade continua a ser a “tolerância zero” face à negligência institucional. “A credibilidade da Igreja depende da verdade, e a verdade exige coragem”, terá dito um responsável da Cúria ao comentar a situação portuguesa. A carta da Santa Sé não se limita à censura: propõe também um plano de acompanhamento pastoral , com visitas apostólicas pontuais às dioceses e formação obrigatória para os bispos sobre boas práticas em gestão de abusos. Estas medidas deverão ser coordenadas pela Nunciatura Apostólica em Lisboa nos próximos meses. Enquanto isso, cresce entre o clero e os leigos a consciência de que a questão já não é apenas jurídica, mas espiritual e moral . A incapacidade de agir com transparência ameaça o testemunho evangélico e a relação da Igreja com a sociedade. “O perdão só é possível depois da justiça”, recordam várias vozes católicas que apelam a um novo pacto de responsabilidade e reparação. O Vaticano conclui a sua mensagem com uma frase inequívoca: “ A omissão é uma forma de cumplicidade .” Autor Domingos Luzia Centro Editorial My Fraternity Catedral e autoridade espiritual Fhoto - © My Fraternity / Wix Media Support © 1996 – 2025 by My Fraternity News . Projeto independente de reflexão e cultura, nascido em formato impresso e digitalizado em 2017. Unido pela fraternidade, pela palavra e pela liberdade intelectual.
- Quem Fala em Nome de Portugal? A Responsabilidade Democrática dos Media
No artigo anterior, “ O Ecrã Inclinado: Como a Televisão Portuguesa se Tornou um Espelho da Direita ” , analisou-se o desequilíbrio estrutural dos espaços de comentário político em Portugal e a forma como o discurso televisivo foi sendo capturado por uma visão predominantemente conservadora da realidade. Resta agora perguntar: quem fala realmente em nome de Portugal? E, talvez mais importante, quem cala as vozes que não cabem no ecrã? O pluralismo não é um ornamento da democracia — é o seu alicerce. Se o comentário televisivo se tornou refém de interesses e conveniências, cabe aos media recuperar a ética do contraditório e devolver ao público o direito de ouvir o país inteiro. Estas perguntas não são meros exercícios teóricos. Elas tocam no coração da vida democrática — o direito de todos participarem na construção da opinião pública. Quando os media falham nesse dever, a democracia fica incompleta. O que a televisão diz — e o que escolhe não dizer — tem efeitos profundos na perceção coletiva. O comentário político, mesmo quando informal, funciona como uma forma de governo simbólico . Os rostos que surgem diariamente nas emissões televisivas acabam por exercer um poder de moldagem sobre as ideias, as emoções e os temores de milhões de cidadãos. A questão ética é evidente: um espaço mediático desequilibrado é uma democracia amputada. O pluralismo, ao contrário do que muitos pensam, não é apenas uma soma de vozes discordantes. É a possibilidade de ouvir perspectivas distintas com igual dignidade . A televisão portuguesa, porém, transformou a divergência em ornamento — uma forma de confirmar o poder das maiorias dominantes sob a aparência da controvérsia. Os mesmos temas repetem-se: impostos, habitação, segurança, imigração. Mas o que não se repete é o ponto de vista. Falta a presença dos trabalhadores, das mulheres fora dos grandes centros, das minorias religiosas e étnicas, dos jovens precários, dos professores e enfermeiros que vivem longe da capital. A televisão fala do país, mas raramente com o país. O resultado é um esvaziamento moral do debate público . As ideias progressistas aparecem como excessos ideológicos, as medidas sociais são tratadas como gastos, e o sofrimento concreto das pessoas é substituído por abstrações estatísticas. O discurso dominante elogia a eficiência e desconfia da empatia. Mas o jornalismo — e sobretudo o comentário político — não é apenas uma técnica: é um serviço cívico. O seu papel é abrir espaço para a compreensão , não reforçar fronteiras invisíveis. O poder invisível da curadoria A responsabilidade começa antes da emissão. Quem decide o elenco de convidados exerce um poder comparável ao de um editor. No entanto, esse processo raramente é transparente. Em muitas redações televisivas, a escolha depende da rede de contactos pessoais, da disponibilidade de agenda e das “garantias de previsibilidade” — isto é, de quem não criará desconforto ao canal ou aos anunciantes. Este círculo fechado conduz àquilo que poderíamos chamar curadoria de consenso : um sistema de seleção de vozes que exclui o imprevisto, o pensamento crítico e o risco de confronto real. Há um receio quase estrutural de dar palco ao contraditório. A cultura televisiva prefere o debate ensaiado, onde todos sabem o seu papel e nenhum convidado ameaça as premissas do programa. Assim se cria uma paz artificial, uma harmonia sem verdade. A pluralidade como exigência ética A defesa da pluralidade mediática não é um capricho de minorias. É uma exigência da própria ideia de república. Uma sociedade informada depende da possibilidade de o cidadão ouvir argumentos divergentes e decidir por si. O jornalismo que se limita a reproduzir as vozes do poder — político, económico ou cultural — torna-se cúmplice da desigualdade. A verdadeira neutralidade não é ausência de opinião: é justiça na distribuição da palavra . A Europa aprendeu duramente o preço do silêncio mediático durante os anos 30. Regimes autoritários não começam com censura aberta, mas com a erosão gradual da diversidade de vozes . Quando as televisões se tornam monotónicas, as democracias começam a perder cor. Reformar sem censurar É possível corrigir o desequilíbrio sem cair na tentação do controlo. Algumas medidas poderiam fortalecer a responsabilidade democrática dos media sem pôr em causa a liberdade de imprensa: Transparência editorial — Cada canal deveria publicar, trimestralmente, a lista de convidados e a respetiva distribuição ideológica e de género. Códigos de pluralismo — As entidades reguladoras poderiam exigir que os painéis de comentário político reflitam a diversidade real da sociedade portuguesa, não apenas a dos partidos. Formação ética e representativa — As escolas de jornalismo e comunicação deveriam incluir a dimensão social e ética da representação pública, de modo que futuros profissionais compreendam o impacto das suas escolhas. Espaço público descentralizado — Incentivar a presença de vozes fora de Lisboa, de diferentes origens e áreas profissionais, aproximando o comentário televisivo da realidade nacional. Estas mudanças não dependem apenas de leis — dependem sobretudo de vontade cultural . A televisão, mais do que qualquer outro meio, tem a capacidade de educar sem parecer que educa . E é nesse poder discreto que reside a sua responsabilidade. O valor do contraditório Um debate verdadeiro não é aquele em que todos concordam com cortesia. É aquele onde o desacordo é vivido como exercício de liberdade. O contraditório não enfraquece a democracia — alimenta-a. Quando as televisões substituem o conflito argumentativo pela encenação cordial, o país adormece na ilusão de consenso. E quando acorda, descobre que já não tem voz. O papel do jornalista, nesse contexto, deve ser o de guardião da diversidade , não o de árbitro de aplausos. Moderar não é neutralizar; é garantir que o diferente tem espaço para existir . Entre o entretenimento e a verdade A tentação do espetáculo é compreensível. A televisão vive de audiências e a polémica vende. Mas o jornalismo perde o seu sentido quando se transforma em entretenimento político. O país precisa de comentaristas que sintam a responsabilidade de formar consciência , não apenas de preencher grelhas. O espectador português não é ingénuo: percebe quando lhe oferecem debate de superfície. O que falta é oferecer-lhe complexidade sem arrogância, pensamento sem ruído. O comentário televisivo pode ser uma escola de cidadania — se recuperar o seu propósito original: explicar o poder e dar contexto ao que o poder cala. O futuro do espaço público Vivemos numa era de fragmentação digital, em que cada cidadão se informa através de bolhas personalizadas. Paradoxalmente, a televisão, que antes centralizava a narrativa nacional, tornou-se o último reduto do discurso comum. É por isso que a sua responsabilidade é hoje ainda maior. Se as televisões generalistas renunciarem à pluralidade, o espaço público português ficará entregue à lógica das redes — rápidas, emotivas, e frequentemente manipuláveis.A ausência de diversidade no comentário televisivo não é apenas uma falha editorial: é uma ameaça estrutural à coesão social . Recuperar a coragem A primeira reforma necessária é interior: a coragem de desagradar.Um jornalista que teme a perda de simpatias políticas ou comerciais já não serve o público — serve o sistema.A liberdade de imprensa não se mede pela ausência de censura estatal, mas pela capacidade de enfrentar o poder com decência e coragem. A democracia não precisa de jornalistas neutros — precisa de jornalistas íntegros. E integridade, neste contexto, significa recusar a falsa equivalência entre o que é argumento e o que é manipulação . Dar voz ao racismo, ao negacionismo ou ao ódio não é pluralismo — é abdicação moral. A voz de todos A televisão tem de reaprender a ouvir. O país não é só a voz dos economistas ou dos ex-ministros: é também a voz das pessoas que vivem as consequências das políticas públicas. A verdadeira análise política começa quando o cidadão comum entra no ecrã. O pluralismo não se constrói com equidistâncias, mas com empatia informada.Os media devem voltar a ser ponte entre o poder e a sociedade , não muralha entre eles. Afinal, quem fala hoje em nome de Portugal?Falam os que têm microfone, não necessariamente os que têm razão. Mas uma democracia amadurece quando as vozes esquecidas encontram finalmente eco — não por concessão, mas por justiça. E talvez esse seja o verdadeiro desafio dos media portugueses: não apenas informar, mas reconhecer. Reconhecer que há um país inteiro fora do estúdio — e que esse país também pensa, sofre, e merece ser ouvido. Autor Álvaro da Serra Centro Editorial My Fraternity Painel de debate televisivo com múltiplos microfones — metáfora da responsabilidade democrática dos media. Fhoto - © My Fraternity / Glenn Carstens - Peters (Unsplash) / Wix Media Support #Democracia #Media #ComentárioPolítico #Pluralismo #Ética © 1996 – 2025 by My Fraternity News . 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- O Ecrã Inclinado: Como a Televisão Portuguesa se Tornou um Espelho da Direita
O pluralismo não é um ornamento da democracia — é o seu alicerce. Se o comentário televisivo se tornou refém de interesses e conveniências, cabe aos media recuperar a ética do contraditório e devolver ao público o direito de ouvir o país inteiro. Há muito que os estúdios de televisão deixaram de ser apenas lugares de informação: tornaram-se câmaras de ressonância onde a política se reduz a espetáculo, e o comentário se confunde com verdade. O problema não é novo, mas o desequilíbrio tornou-se tão evidente que já não se trata de perceção subjetiva — é uma realidade empírica. A televisão portuguesa, nos principais canais generalistas, apresenta um enviesamento estrutural à direita , mascarado por uma estética de pluralismo que, em rigor, raramente existe. Quem percorre a grelha televisiva de um domingo à noite encontra quase sempre o mesmo figurino: antigos ministros de governos conservadores, assessores de direita reciclados em analistas neutros, colunistas de imprensa económica, e uma ou duas vozes de centro-esquerda colocadas como contraponto folclórico — a quota simbólica da discordância. Os formatos mudam, mas a fórmula repete-se. Entre Linhas Vermelhas , Fora do Baralho , Crossfire e tantos outros programas, a diversidade aparente é apenas um reflexo do mesmo espelho ideológico. É neste terreno que se forja a opinião pública. O espectador comum, ao ouvir os mesmos enquadramentos sobre impostos, serviços públicos ou segurança, acaba por interiorizar uma linguagem que normaliza as teses da direita: “o Estado gasta demais”, “os professores exigem privilégios”, “os sindicatos bloqueiam o progresso”. Frases simples, repetidas com serenidade e autoridade televisiva, ganham o peso de uma evidência. Não se trata de censura — trata-se de seleção sistemática . Escolhe-se quem comenta, quem enquadra, quem explica. E ao escolher, cria-se uma fronteira invisível entre o que é considerado razoável e o que é relegado para o campo do “radical”. É assim que as ideias progressistas, feministas ou social-democratas acabam retratadas como excessos ideológicos, enquanto a retórica neoliberal é tratada como senso comum. Um dos sinais mais reveladores está na linguagem usada pelos próprios jornalistas que moderam estes debates. Quando um convidado critica as privatizações, o moderador pergunta: “Mas isso não é utópico?”; quando outro defende cortes fiscais para empresas, a questão transforma-se em “Mas não será esse o caminho inevitável?”. A neutralidade morre nas perguntas. Este desvio tem consequências sérias. O comentário político televisivo é hoje uma das principais fontes de socialização ideológica em Portugal. Os jovens que não leem jornais formam a sua perceção política através dos rostos que aparecem nos ecrãs. E esses rostos pertencem, esmagadoramente, ao mesmo universo social e cultural: homens brancos, de meia-idade, oriundos da elite universitária lisboeta, com trajetórias profissionais interligadas entre política e comunicação. O caso não é exclusivamente português. Em vários países europeus, o jornalismo político atravessa uma crise de representatividade. Mas o problema adquire aqui uma gravidade particular porque o país continua a confundir notoriedade com competência . Um ex-ministro torna-se imediatamente “analista”; um comentador económico é tratado como “especialista em sociedade”; uma antiga deputada é apresentada como “observadora independente”. O ecrã legitima, e a legitimidade torna-se poder. A televisão cria a ilusão de que todos os lados estão representados. Mas o que temos, na verdade, é um sistema fechado onde a pluralidade é encenada . Há uma esquerda convidada apenas para cumprir o ritual da diversidade, e uma direita permanente, com acesso contínuo ao microfone. A consequência é dupla: por um lado, esvazia-se o debate; por outro, gera-se nos espectadores a sensação de que a direita é a posição natural, moderada, patriótica — e tudo o que a desafia é ruído. Em 2025, esta tendência acentuou-se. A extrema-direita, que antes precisava de conquistar espaço, passou a beneficiar de um ambiente discursivo já preparado para a sua linguagem. Os debates sobre “imigração”, “segurança” ou “identidade nacional” deixaram de ser marginais — tornaram-se rotineiros, enquadrados como “temas sensíveis” a tratar com “ponderação”, o que na prática significa cedência simbólica ao discurso do medo . O curioso é que poucos jornalistas se reconhecem como parte deste processo. Muitos acreditam sinceramente que mantêm neutralidade. Outros, por receio de parecer militantes, refugiam-se num profissionalismo assexuado que, em nome da imparcialidade, acaba por reforçar o status quo. Assim, o medo de ser parcial transforma-se na pior das parcialidades: a indiferença. A televisão portuguesa não se tornou um espaço de confronto de ideias, mas um teatro de certezas. E quando a certeza domina, a democracia empobrece. O pluralismo não se mede pelo número de microfones, mas pela autonomia das vozes . O verdadeiro equilíbrio mediático não se alcança somando comentadores de partidos diferentes, mas abrindo espaço para diferentes visões do país — das universidades, das periferias, das artes, das associações cívicas, das escolas, das ruas. A questão é: quem escolhe? Quem define o elenco dos programas de comentário político? Quais são os critérios? A resposta raramente é pública. E é aí que reside o cerne do problema. A televisão portuguesa opera, na sua maioria, sob lógicas de mercado e afinidades pessoais . Ex-governantes tornam-se comentadores, comentadores tornam-se assessores, e o ciclo fecha-se. Pouco importa a ideologia declarada — o que conta é a integração no sistema. Os exemplos são inúmeros. Nas últimas semanas, um debate sobre habitação juntou três economistas de linha liberal e nenhum especialista em políticas públicas. Noutra emissão, uma discussão sobre imigração reuniu dois ex-políticos da direita e um jornalista do mesmo meio, sem a presença de sociólogos ou juristas. O resultado é previsível: as conclusões repetem-se, os enquadramentos não se renovam, e o espectador sente que ouviu tudo aquilo antes — porque ouviu mesmo. O papel das televisões públicas deveria ser o de contrabalançar esta uniformidade , oferecendo espaço à diferença e à dissidência argumentativa. Mas a RTP, demasiado sensível às pressões partidárias e corporativas, muitas vezes reproduz o mesmo padrão. Falta-lhe a coragem de desagradar. Há, claro, exceções e jornalistas que resistem. Mas são exceções que confirmam a regra. A força do consenso é tal que até as vozes críticas são moldadas pelo enquadramento dominante: para poderem falar, precisam moderar o tom, simplificar a linguagem e evitar parecer “de esquerda”. A autocensura tornou-se hábito, e o hábito, convenção. A questão não é apenas política — é ética e cultural . A televisão molda o imaginário coletivo. Ao longo dos anos, construiu-se um espaço de comentário onde ser conservador é ser “prudente”, ser neoliberal é ser “realista”, e ser progressista é ser “ideológico”. As palavras perderam simetria. A linguagem, como um espelho inclinado, devolve sempre o mesmo reflexo. O que está em causa é a qualidade do debate público e, com ela, a saúde da democracia. Se a televisão é o espelho da nação, é urgente endireitar o espelho. Mas como fazê-lo? Deverão as televisões públicas estabelecer quotas reais de representatividade ideológica? Deverá a Entidade Reguladora para a Comunicação Social avaliar a diversidade dos painéis? Ou dependerá tudo de uma mudança de cultura profissional, onde o comentário volte a ser serviço público e não entretenimento ideológico? Estas perguntas não têm resposta fácil, mas abrem o caminho para uma reflexão necessária. Autor Álvaro da Serra Centro Editorial My Fraternity No próximo texto — “ Quem Fala em Nome de Portugal? A Responsabilidade Democrática dos Media ” — procuraremos compreender como a pluralidade mediática pode ser reconstruída: não apenas por obrigação legal, mas como um dever moral de quem informa. Microfone e luz de estúdio representando a voz pública nos media portugueses. Fhoto - © My Fraternity / Glenn Carstens - Peters (Unsplash) / Wix Media Support #Democracia #Media #ComentárioPolítico #Pluralismo #Ética © 1996 – 2025 by My Fraternity News . Projeto independente de reflexão e cultura, nascido em formato impresso e digitalizado em 2017. 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- José Manuel Anes alvo de tentativa de homicídio em Lisboa; suspeito já identificado
O antigo presidente do OSCOT encontra-se internado em estado reservado no Hospital de São José, após ter sido esfaqueado na manhã desta segunda-feira. Lisboa — O professor universitário e ex-presidente do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo (OSCOT), José Manuel Anes , foi esta segunda-feira, 20 de outubro, vítima de uma tentativa de homicídio na sua residência, em Lisboa. Segundo fonte policial, o académico sofreu várias facadas , tendo sido transportado em estado grave para o Hospital de São José, onde permanece internado com prognóstico reservado , devido a um hematoma cerebral . As autoridades já identificaram o suspeito do ataque, que se encontra em parte incerta. A Polícia Judiciária está a conduzir as diligências de investigação, após comunicação inicial da PSP. Com 81 anos, José Manuel Anes é uma das figuras mais reconhecidas da criminalística e da segurança nacional , tendo presidido ao OSCOT e dirigido a revista Segurança e Defesa . Licenciado em Química e Doutorado em Antropologia Social, é também autor de várias obras sobre esoterismo e espiritualidade. O OSCOT confirmou o ataque e expressou “ votos de rápida recuperação ” ao seu fundador e antigo presidente, sublinhando que acompanha de perto a situação clínica. A investigação mantém-se em curso e as autoridades não divulgaram ainda o motivo do ataque. José Manuel Anes, de 81 anos, é licenciado em Química, doutorado em Antropologia Social e figura reconhecida do meio da criminalística em Portugal. Foi grão-mestre da Grande Loja Regular de Portugal, dirige a revista “Segurança e Defesa” e fundou o OSCOT, tendo sido também presidente do seu Conselho Consultivo. A investigação prossegue e o motivo do ataque ainda não foi oficialmente divulgado pela PJ. (em atualização) Autor Redação My Fraternity News 🕊️ José Manuel Anes continua em recuperação e agradece mensagens de apoio O antigo Grão-Mestre e reconhecido académico José Manuel Anes agradeceu publicamente, através das redes sociais, as inúmeras mensagens de amizade e solidariedade recebidas nos últimos dias. “Muito obrigado pelas vossas mensagens amigas. Ainda no hospital, mas a recuperar. Um grande abraço a todos.” — escreveu José Manuel Anes. A publicação, partilhada na sua página pessoal, foi recebida com carinho por muitos irmãos e amigos que têm acompanhado de perto o seu estado de saúde. Recorde-se que José Manuel Anes tem tido um papel de grande relevância na vida maçónica e cívica portuguesa, sendo autor de várias obras sobre simbologia, espiritualidade e ética pública. O My Fraternity junta-se a todos os votos de plena recuperação. 📸 Foto: José Manuel Anes / Facebook (página pública) #MyFraternityNews #JoséManuelAnes #OSCOT #Lisboa #Segurança #Criminalidade #Justiça #Portugal © 1996 – 2025 by My Fraternity News . Projeto independente de reflexão e cultura, nascido em formato impresso e digitalizado em 2017. Unido pela fraternidade, pela palavra e pela liberdade intelectual.
- Raquel Varela lança jornal Maio com apoio sindical e apelo à organização dos trabalhadores
Nova publicação socialista propõe-se defender o pensamento livre e enfrentar a reforma laboral do Governo AD, com financiamento de sindicatos e contributos de leitores. Foi lançado esta quinta-feira o jornal Maio , um novo projeto editorial liderado pela historiadora e professora universitária Raquel Varela , que se apresenta como uma publicação socialista, independente e voltada para a defesa dos direitos dos trabalhadores. A iniciativa conta com o apoio financeiro de cinco sindicatos e procura agora ampliar a base de contributos voluntários e de leitores-assinantes . Segundo a coordenadora do comité editorial, o jornal nasce “para defender a cultura, a educação e o pensamento livre”, num contexto em que o Governo da Aliança Democrática (AD), apoiado pela Iniciativa Liberal e pelo Chega, prepara uma reforma profunda da legislação laboral . “O Maio surge porque há direitos elementares em risco, incluindo o direito à greve”, afirmou Raquel Varela, que acusa o executivo de promover uma “contrarreforma laboral”. O jornal é financiado por quotas sindicais e donativos individuais , modelo inédito em Portugal desde a década de 1990. Entre os sindicatos fundadores estão o SITEU (Enfermeiros Unidos), o STASA (Setor Automóvel), o SNTSF (Trabalhadores da Manutenção Ferroviária), o STOP e o Simmper , dos motoristas de matérias perigosas. A publicação será de periodicidade semanal e combina formatos de reportagem, crónica, ensaio e entrevista , estando também prevista a criação de um videocast — Tempo contra o Tempo — dedicado à análise política e laboral. O comité editorial inclui, além de Varela, António Simões do Paço, Afonso Maia Silva, Adriano Zilhão e Gorete Pimentel , todos em regime de voluntariado. “O trabalho no Maio é hoje inteiramente voluntário. Quem quiser apoiar pode subscrever a newsletter, tornar-se sócio ou oferecer ajuda técnica”, explicou a historiadora, incentivando à mobilização: “Se não quiserem organizar-se connosco, organizem-se noutro lado qualquer. Mas organizem-se.” Entre os cronistas e colaboradores já confirmados estão António Garcia Pereira, Mário Tomé, Rui Pereira, Padre José Luís Rodrigues, Cristina Semblano, Joel Neto, Miguel Real, Manuel da Silva Ramos e António Carlos Cortez , além do ilustrador João Mascarenhas. A associação que deterá o jornal encontra-se em processo de legalização e o registo na Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) será o passo seguinte. Até lá, o grupo mantém o foco na construção de uma comunidade de leitores ativos. No texto de apresentação, o Maio define a sua missão como “a organização e informação independente de quem trabalha, o combate às guerras e à destruição de direitos que o capitalismo traz no seu ventre”. O lançamento deste novo título marca o regresso de um projeto editorial de matriz socialista ao espaço público português, apostando numa economia solidária, na militância intelectual e na intervenção social direta , num tempo em que a concentração mediática e a precarização do trabalho desafiam a diversidade democrática da imprensa. Autor: Clara Vassal Centro Editorial My Fraternity Simbologia do regresso de um projeto editorial de matriz socialista Fhoto - © My Fraternity / Wix Media Support #JornalMaio #RaquelVarela #Sindicatos #Trabalho #Liberdade #Media #Portugal © 1996 – 2025 by My Fraternity News . Projeto independente de reflexão e cultura, nascido em formato impresso e digitalizado em 2017. Unido pela fraternidade, pela palavra e pela liberdade intelectual.











