Macau perde o seu último jornal independente
- Redação My Fraternity

- 30 de out.
- 2 min de leitura
O jornal independente All About Macau encerra após mais de uma década de resistência.
O jornal All About Macau, um dos últimos meios independentes da região, anunciou que deixará de existir a 20 de dezembro. A data, que coincide com o aniversário da transferência de soberania portuguesa para a China, marcará também o fim de uma experiência rara de jornalismo livre no território.
Num comunicado divulgado nas redes sociais, a equipa editorial explicou que o encerramento é consequência direta de “pressões externas, restrições legais e riscos pessoais para os jornalistas”. A redação revelou ainda que as autoridades locais revogaram o registo oficial de publicação, impedindo o jornal de continuar a exercer atividade.
O All About Macau nasceu em 2012, a partir de um pequeno projeto digital que pretendia “discutir o máximo possível” — tradução literal do seu nome em chinês. Com o tempo, tornou-se um espaço de debate e de reportagem crítica, com edições mensais e uma comunidade fiel de leitores.
A decisão surge num momento de tensão crescente para os profissionais da comunicação social em Macau. Três jornalistas da publicação enfrentam processos judiciais relacionados com cobertura política, dois deles detidos em abril por tentarem assistir a uma sessão pública da Assembleia Legislativa.
A equipa admite que já não tem condições de garantir segurança e liberdade de trabalho. “É impossível manter padrões éticos num ambiente onde cada pergunta pode ser interpretada como provocação”, escreveu a redação, num tom de despedida comovido.
O Comité para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) descreveu o fecho como “um golpe profundo na liberdade de imprensa” e alertou para a “deterioração acelerada do espaço público em Macau”. Já o investigador Éric Sautedé, especialista em política asiática, afirmou que o desaparecimento do jornal representa “a perda de um contrapeso essencial à opacidade do poder local”.
O encerramento do All About Macau é também simbólico: ocorre num território que, apesar de manter um sistema jurídico de matriz portuguesa, tem vindo a alinhar-se com as restrições aplicadas em Hong Kong desde a entrada em vigor da Lei de Segurança Nacional, em 2020.
Em jeito de despedida, o jornal deixou uma mensagem simples aos leitores:
“Se já não pudermos falar, que ao menos continuem a escutar. A sociedade civil só morre quando o silêncio se torna confortável.”
Autor: My Fraternity - Redação
📸 Autor da imagem: Vernon Raineil Cenzon
Fonte: Unsplash (licença livre de uso, com atribuição opcional)




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