My Fraternity

22 de mai de 20201 min

Poema de ANTÓNIO ARNAUT lido, em 20 de maio de 2018, numa Tertúlia de Poesia

Poema de ANTÓNIO ARNAUT lido, em 20 de maio de 2018, numa Tertúlia de Poesia.

PAISAGEM


 
O que me dói nesta paisagem não é o rio
 
que corre dentro de mim,
 
nem as árvores chorosas que povoam
 
a noite vagabunda dos sonâmbulos.

O que me dói não são as folhas perdidas
 
na avareza da corrente,
 
nem os choupos hirtos que entristecem
 
o céu toldado de presságios.
 
O que me dói não são os barcos ausentes
 
do afeto conjugal dos rios,
 
nem as searas crispadas pelo desejo
 
de serem finalmente pão em nossas bocas.
 
O que me dói não são as lavadeiras viúvas
 
esfregando a dor na roupa suja dos outros,
 
nem os filhos chafurdando na água
 
a fome dos brinquedos que nunca tiveram.
 
O que me dói é o espelho partido
 
da minha infância
 
e a infância de todos os meninos
 
sem espelho.


 
António Arnaut

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